Opinião
Comércio entre EUA e China em momento de tensão
Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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O mundo diplomático e econômico das grandes nações sempre viveu momentos de disputas desde o século 20 e se estende até os dias atuais, em que muitas das lideranças políticas mundiais não abrem mão de seus interesses particulares, chegando até ao desequilíbrio emocional. Estados Unidos e China são atualmente as duas maiores economias do mundo. Estas posições não são suficientes para aproximá-los no sentido de manterem relações comerciais diplomáticas que visem o crescimento ainda maior das suas economias. Ao contrário, os países apresentam um longo histórico de tensões políticas e disputas comerciais, as quais se acirram a partir da ascensão econômica da China. Mesmo que a China tenha se tornado um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, uma vez que a maior parcela das importações dos americanos provenha do país asiático, ou seja, 20% de tudo que os Estados Unidos compram do mercado internacional são de origem chinesa. Por outro lado, as principais exportações dos Estados Unidos para a China incluem aviões (US$ 14 bilhões), aparatos eletrônicos (US$ 13 bilhões), instrumentos médicos e ópticos (US$ 9,8 bilhões, bem como carros novos e usados (US$ 9,4 bilhões).
Na década de 1980, enquanto os Estados Unidos reafirmavam a sua hegemonia internacional, a China dava início a importantes reformas internas, com destaque para a gradual abertura da sua economia. A partir daí o país se tornou a segunda maior economia do mundo e a sua indústria passou a se destacar em diversos setores notadamente na tecnologia e telecomunicações. O problema é que, mesmo que Estados Unidos e China mantenham relações comerciais e diplomáticas, o crescimento chinês é interpretado como uma ameaça à hegemonia econômica americana. O "bate boca" iniciou em 2018 quando os americanos anunciaram taxações sobre os produtos importados da China. As tensões se acirraram com a alegação do governo americano de espionagem das grandes empresas chinesas do setor de telecomunicações como a Huwaei, uma das pioneiras da tecnologia 5G. Em 2022, a China interpretou como provocação direta a visita de uma congressista norte-americana à ilha de Taiwan, aumentando o clima de tensão entre os países.
O que parece incomodar os americanos é que a China segue como o maior exportador mundial de carros, ultrapassando o Japão. A indústria automobilística chinesa avançou 77% e exportou 2,34 milhões de veículos para diversos países, confirmando a sua posição de liderança no segmento. Por outro lado, o país asiático acaba de cancelar encomendas de carros produzidos nos Estados Unidos no valor de US$ 250 bilhões. A decisão pegou de surpresa a indústria americana de automóveis, ou seja, uma reviravolta imprevista que pode gerar sérias repercussões econômicas para o setor automobilístico americano. A decisão chinesa de cancelar a importação de carros americanos, certamente está impactando o comércio internacional entre os dois países, acirrando ainda mais as tensões no ambiente comercial e político.
A relação conflituosa entre os dois países certamente aumentará no decorrer do tempo, mesmo que as duas economias apresentem alto grau de interdependência. A vantagem dos americanos em relação aos chineses é a sua ideologia espalhada por todo o mundo com amplas vantagens na sua difusão. Por outro lado, a cultura chinesa se caracteriza por um maior conservadorismo e tradicionalismo, o que dificulta a sua abertura para mundo, mesmo que tenha avançado de forma significativa nos últimos anos. O certo é que, nas palavras de Xi Jinping, "as relações entre Estados Unidos e China são decisivas para o futuro da humanidade". Pode-se antever que uma guerra comercial entre EUA e China levará a uma escalada de tarifas, além de elevar os custos das exportações e reduzir significativamente o comércio internacional.
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